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quarta-feira, 17 de abril de 2013

Eles, os ingleses


Se os americanos são tipicamente americanos, como já disse Caetano Veloso, digo eu que os ingleses são tradicionalmente ingleses. Sim, eles tomam chá - e muito!, eles cumprem o horário britanicamente, eles são extremamente educados: mesmo se for você a esbarrar num inglês, tenha certeza de que vai ouvir um sorry. Mas eles são mais do que isso. Trata-se de um povo extremamente consciente dos seus direitos e deveres. Certamente pelos anos a mais de história, eles têm uma maturidade gritante em relação a nós brasileiros. Não estou falando de forma deslumbrada não, mas como observadora do dia-a-dia de Londres. 

Tenho seis meses por aqui e ainda me comove entrar num metrô e ver todo mundo lendo. Um livro, um kindle, um jornal. Aliás, os jornais são distribuídos gratuitamente nas estações de metrô (o melhor, na minha opinião, é o Evening Standard que sai à tarde e já traz as notícias do dia - o The Guardian não está incluído nessa lista). Acho até que os ingleses desenvolveram um jeito especial de ler em pé porque, na boa, o metrô pode freiar ou acelerar em cada ponto que eles não se abalam. 

Coisa que já me emocionou e agora me acostumei é o respeito pelo outro nas escadas. O lado esquerdo está sempre livre para quem tem pressa. Tão bonitinho ver aquela fileira de gente só na direita! Outra coisa: o que quer que você compre, tem um prazo para trocar, como no Brasil, mas tem também a opção de ter o seu dinheiro de volta -  it is the refound

Já vi vários pedestres xingarem motoristas que tentam passar no sinal vermelho. Are you crazy? ou Hey, I will call the police!. A polícia é constantemente chamada por assuntos que, no Brasil, seriam banais mas em Londres são levados a sério. Uma conhecida minha chamou a polícia porque pegou a vizinha escutando atrás da porta dela. A polícia foi sim e questionou a vizinha. 

Existe ali uma liberdade e, ao mesmo tempo, um respeito pelo outro muito grande. Minha sogra voltava de ônibus para casa à noite quando entrou um homem bêbado falando alto. Sabe o que aconteceu? Simplesmente o motorista mandou ele sair ou chamaria a polícia. Detalhe: a polícia lá  não usa armas. 

Eu já vi pessoas altamente simpáticas e acessíveis a mim se transformarem em vilãs. Quando coloquei Lara na nursery veio um termo para assinar que, entre outras coisas, dizia que em caso de falta, a creche deveria ser avisada. Bem, um dia ela faltou e eu não avisei. Resultado: recebi um telefonema pra lá de severo da coordenadora que eu achava a pessoa mais meiga do mundo. 

Por outro lado, acho que existe ali uma carência de afeto. Por exemplo, quando estou no metrô com Iuri, my son, a gente ou senta junto ou, quando tem poucos lugares, ele senta no meu colo, e a gente está sempre brincando, se beijando. Vejo nos outros sorrisos explícitos de cumplicidade. É, sempre há  dois lados da moeda, ainda que seja em pound!!

Para finalizar, Caetano again, mas diferentemente dele, não acho que para os ingleses branco é branco, preto é preto (e a mulata não é a tal), bicha é bicha, macho é macho, mulher é mulher. Acho, sinceramente, que os ingleses tendem sim a respeitar as individualidades. Embora, precise concordar com meu baiano preferido que dinheiro é dinheiro. E isso continua regendo o sistema. Acima de cor de pele ou de sexo! E, o que é pior: aqui embaixo, no nosso Brasil, a indefinição continua a ser o regime. "E dançamos com uma graça cujo segredo nem eu mesmo sei, entre a delícia e a desgraça, entre o monstruoso e o sublime".

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